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E por falar em Emoções

E por falar em Emoções

Emoção é uma reação a um estímulo ambiental que produz tanto experiências subjetivas, quanto alterações neurobiológicas significativas. Está associada ao temperamento, personalidade e motivação. A  palavra deriva do termo latino emovere, onde o e- (variante de ex-) significa "fora" e movere significa "movimento". Seja para lidar com estímulos ambientais, seja para comunicar informações sociais biologicamente relevantes, as emoções apresentam diversos componentes adaptativos para mamíferos com comportamento social complexo, sendo cruciais, até mesmo, para a sua sobrevivência.

Não existe uma taxionomia ou teoria para as emoções que seja geral ou aceita de forma universal. Existe uma distinção entre a emoção e os resultados da emoção, principalmente os comportamentos gerados e as expressões emocionais.

As pessoas frequentemente se comportam de certo modo como um resultado direto de seus estados emocionais, como chorando, lutando ou fugindo. Ainda assim, se se pode ter a emoção sem o seu correspondente comportamento, então nós podemos considerar que a emoção não é apenas o seu comportamento e muito menos que o comportamento seja a parte essencial da emoção.

A Teoria de James-Lange propõe que as experiências emocionais são consequência de alterações corporais. A abordagem funcionalista das emoções (como a de Nico Frijda) sustenta que as emoções estão relacionadas a finalidades específicas, como fugir de uma pessoa ou objeto para obter segurança.

Classificação

As emoções complexas constroem-se sobre condições culturais ou associações combinadas com as emoções básicas. Analogamente ao modo como as cores primárias são combinadas, as emoções primárias podem ser combinadas gerando um espectro das emoções humanas. Como, por exemplo, raiva e desgosto podem ser combinadas em desprezo. 

Robert Plutchik propôs o modelo tridimensional circumplexo para descrever a relação entre as emoções. Este modelo é similar ao círculo cromático. A dimensão vertical representa a intensidade, enquanto o círculo representa a similaridade entre as emoções. Ele determina oito emoções primárias dispostas em quatro pares de opostos.

Outro importante significado sobre classificação das emoções refere-se a sua ocorrência no tempo. Algumas emoções ocorrem sobre o período de segundos (por exemplo, a surpresa) e outros demoram anos (por exemplo, o amor). O último poderia ser considerado como uma tendência de longo tempo para ter uma emoção em relação a um certo objeto ao invés de se ter uma emoção característica (entretanto, isto pode ser contestado).

Uma distinção é então feita entre episódios emocionais e disposições emocionais. Disposições são comparáveis a peculiaridades do indivíduo (ou características da personalidade), onde quando alguma coisa ocorre, serve de gatilho para a experiência de certas emoções, mesmo sobre diferentes objetos. Por exemplo, uma pessoa irritável é geralmente disposta a sentir irritação mais facilmente que outras.

Alguns estudiosos (por exemplo, Armindo Freitas-Magalhães 2009 e Klaus Scherer, 2005) colocam a emoção como uma categoria mais geral de "estados afetivos". Onde estados afetivos podem também incluir fenômenos relacionados, como o prazer e a dor, estados motivacionais (por exemplo, fome e curiosidade), temperamentos, disposições e peculiaridades do indivíduo.

Há, ainda, a relação entre processos neurais e emoções: através de processos de imagem por ressonância magnética funcional, já é possível investigar a emoção 'ódio' e sua manifestação neural. Neste experimento, a pessoa teve seu cérebro escaneado (examinado) enquanto via imagens de pessoas que ela odiava. Os resultados mostraram incremento da atividade no médio giro frontal, putâmen direito, bilateralmente no córtex pré-motor, no polo frontal, e bilateralmente no médio lobo da ínsula. Os pesquisadores concluíram que existe um padrão distinto da atividade cerebral quando a pessoa experimenta o ódio.

Outro estudo colocou ainda em questão qual de três grandes teorias de estudo da emoção (modelo circumplexo, teoria das emoções básicas ou teoria da avaliação) é capaz de corresponder melhor aos padrões de ativação cerebral. Neste caso, os participantes atribuíam uma determinada emoção a vários contos pequenos enquanto os seus cérebros eram examinados por imagem por ressonância magnética funcional. De facto, os dados obtidos neste estudo revelaram que, possivelmente (e de acordo com as condições em que o estudo foi realizado), as emoções atribuídas a terceiros poderão ser descodificadas através dos padrões neuronais e que o nosso conhecimento dessas emoções é abstrato e dividido em diversas dimensões (dimensional). Consequentemente, os dados sugeriram que o modelo que melhor se adequa aos padrões neuronais poderá ser o da teoria da avaliação, tendo em conta as condições em que o estudo foi realizado.

Teoria das Emoções Básicas

As emoções básicas são as emoções mais elementares, distintas e mais contínuas no tempo entre as diversas espécies das emoções discretas, mas também podem ser consideradas as mais relacionadas com funções de sobrevivência. Estas emoções são assim designadas uma vez que não podem ser decompostas em termos semânticos ainda mais simples. Segundo esta teoria, são diversas combinações entre as emoções básicas (associadas a expressões faciais) que permitem compreender as emoções mais complexas.

Teorias

Há teorias sobre emoção desde a Grécia antiga (estoicismo, as teorias de Platão e Aristóteles etc.). Encontram-se teorias sofisticadas nos trabalhos de filósofos como René Descartes, Baruch Spinoza e David Hume. Posteriormente, as teorias das emoções ganharam força com os avanços da pesquisa empírica. Frequentemente, as teorias não são excludentes entre si e vários pesquisadores incorporam múltiplas perspectivas nos seus trabalhos.

Teorias somáticas

Teorias somáticas da emoção consideram que as respostas corporais são mais importantes que os julgamentos no fenômeno da emoção. A primeira versão moderna dessas teorias foi a de Willian James, em 1880, que perdeu valor no Século XX, mas que ganhou popularidade mais recentemente devido às teorias de John Cacioppo, António Damásio, Joseph E. LeDoux e Robert Zajonc, que conseguiram obter evidências neurológicas.

Teoria de Joseph LeDoux

Joseph E. LeDoux é um neurocientista americano que, durante duas décadas, dedicou a sua investigação a uma teoria pioneira na área das emoções. LeDoux propôs o conceito de circuito de sobrevivência como base para entender processos emocionais comuns a humanos e outros animais.

Tendo em conta que algumas semelhanças neurológicas entre humanos e outros animais incluem funções cerebrais utilizadas na sobrevivência animal, LeDoux foca em circuitos que estão associados a essas funções que permitem, aos organismos, sobreviverem e prosperarem diariamente, quando confrontados com desafios ou oportunidades – os circuitos de sobrevivência – e acredita que, através deles, os investigadores poderão ganhar conhecimentos na área da emoção, quer humana, quer animal. Este conjunto de circuitos é constituído por circuitos relacionados com defesa, manutenção de fontes de energia e nutrição, regulação de fluidos, termorregulação, reprodução, entre outros.

Os circuitos de sobrevivência têm a sua origem em mecanismos primordiais que estavam presentes em seres vivos mais primitivos. Com o avanço na escala evolutiva, as capacidades de sobrevivência aumentam em complexidade e sofisticação, devido à presença de receptores sensoriais e órgãos efetores especializados, e um sistema nervoso central capaz de coordenar funções corporais e interações com o ambiente.

Estes circuitos estão geneticamente programados (inatos) e, para além de existirem aspectos específicos para cada espécie, também existem componentes centrais que estão conservados nos mamíferos, significando que são partilhados por todos eles, incluindo os humanos. Isto é comprovado por semelhanças a nível celular e molecular entre diferentes grupos de mamíferos. Uma consequência notável de se ativar um circuito de sobrevivência consiste na emergência de um estado global no organismo cujos componentes maximizam o bem-estar do animal em situações onde existem desafios ou oportunidades.

Teoria de James-Lange

William James, no artigo What is an Emotion? (Mind, 9, 1884: 188-205), argumenta que as experiências emocionais são devidas principalmente a experiência de alterações corporais. O psicólogo dinamarquês Carl Lange também propôs uma teoria similar na mesma época, pelo que a perspectiva é conhecida como a Teoria de James-Lange. Esta teoria e as suas derivações consideram que uma nova situação conduz a uma alteração do estado corporal. Como James diz: "a percepção das alterações corporais assim que elas ocorrem é a emoção". James ainda argumenta que "nos sentimos mal porque choramos, ficamos com raiva porque agredimos, ficamos com medo porque trememos. Entretanto nós não choramos, agredimos nem trememos porque estamos sentidos, com raiva ou amedrontados, como era de se esperar".

Esta teoria é sustentada por experiências em que, ao se manipular um estado corpóreo, uma emoção esperada é induzida. Assim, estas experiências possuem implicações terapêuticas (por exemplo, em terapia do riso e dançaterapia). A teoria James-Lange é, frequentemente, mal compreendida porque aparenta ir contra a intuição ou o senso comum. A maioria das pessoas acredita que as emoções atuam sobre ações específicas, como por exemplo: "Eu estou chorando porque estou me sentindo mal" ou "Eu fugi porque estava com medo". Esta teoria, inversamente, assegura que primeiro a pessoa reage a uma situação (fugir e chorar acontecem antes da emoção) e depois interpreta suas ações como uma resposta emocional. Deste modo, as emoções servem para explicar e organizar as ações dentro do nosso sistema mental.

Teorias Neurobiológicas

Estas teorias são baseadas nas descobertas feitas sobre o mapeamento neural do sistema límbico. A explicação neurobiológica para a emoção humana é que a emoção é um 'agradável' (prazeroso) ou 'desagradável' (doloroso) estado mental organizado no sistema límbico do cérebro dos mamíferos. Distintas das respostas reativas dos répteis, as emoções poderiam ser elaborações dos mamíferos da avaliação de padrões (nos vertebrados), onde substâncias neuroquímicas (por exemplo: dopamina, noradrenalina e serotonina) regulam o nível de atividade cerebral, com movimentos corporais visíveis, gestos e posturas. Nos mamíferos, primatas e seres humanos, sentimentos são demonstrados por manifestações emocionais.

Por exemplo: a emoção humana do amor é apresentada envolvendo os paleocircuitos do cérebro dos mamíferos (especificamente, o giro do cíngulo) com capacidade de cuidar, alimentar e ordenar a prole. Os paleocircuitos são plataformas neurais para expressão corporal configuradas em forma de redes de neurônio no prosencéfalo, tronco cerebral e medula espinhal. Eles se desenvolveram principalmente nos ancestrais mamíferos mais recentes, tal como feito pelos peixes sem mandíbula para controlar seu sistema locomotor. Presume-se que, antes do cérebro dos mamíferos, a vida no mundo não verbal era automática, pré-consciente e previsível. O controle motor dos répteis reage às indicações dos sentidos de visão, audição, tato, olfato, gravidade e movimentação com um pré-conjunto de padrões de movimentação e posturas programadas.

Com o surgimento dos mamíferos noturnos, cerca de 180 milhões de anos depois, o olfato substitui a visão como o sentido dominante, surgindo um modo diferente de obter respostas do sentido olfativo. É proposto que, a partir daí se tenham desenvolvido, nos mamíferos, a emoção e a memória emocional. No período Jurássico, o cérebro dos mamíferos investiu pesadamente na função olfativa para sobreviver durante a noite, enquanto os répteis dormiam. Esse padrão de comportamento orientado pelo cheiro gradualmente formou os alicerces do que seria o atual sistema límbico humano.

As emoções estão relacionadas com a atividade cerebral em áreas ligadas a atenção e motivação do comportamento, e determinam o que é relevante para os seres humanos. Trabalhos pioneiros de Broca (1878), Papez (1937) e MacLean (1952) sugerem que a emoção é relacionada com um grupo de estruturas no centro do cérebro chamado sistema límbico, tais como o hipotálamo, o giro do cíngulo, hipocampo e outras. Pesquisas mais recentes têm mostrado que algumas destas estruturas do sistema límbico são não tão diretamente relacionadas com a emoção, enquanto estruturas não límbicas têm se mostrado mais relevantes no processo emocional.

Autor(es): Jesuína Gonçalves (19/03/2019)